Escutatória e Psicomotricidade: escutar com o corpo, acolher com a alma
6/12/20252 min read


Vivemos em uma época em que todos querem falar. Cursos de oratória se multiplicam por todos os lados. As pessoas querem aprender a se expressar, a conquistar espaço com a voz. Mas... quem ensina a escutar? Quem está disposto a aprender a ouvir — com o corpo inteiro?
Na psicomotricidade, aprendemos que escutar vai muito além das palavras. Escutar é acolher o outro com todos os sentidos, especialmente com o corpo. A escuta psicomotora é uma escuta sensível, que percebe o que se diz nos silêncios, nos gestos, no olhar, na inquietação, no movimento.
Porque o corpo fala. Sempre.
E é por isso que a escutatória deveria ser uma das primeiras habilidades a serem cultivadas por quem trabalha com o desenvolvimento humano — especialmente com crianças.
Imagine uma criança inquieta, que se joga no chão, que grita, que não consegue parar. Aos olhos apressados, pode parecer desobediência ou birra. Mas ao olhar do psicomotricista, aquilo é um grito de algo que ainda não aprendeu a se transformar em palavra.
A escuta psicomotora começa aí: na disponibilidade para perceber o que não está dito com a boca, mas com o corpo.
Começa no silêncio interno, que nos permite estar inteiros diante do outro.
Começa quando aprendemos a desacelerar nossos pensamentos e julgamentos para, enfim, ver e sentir o que está vivo naquele momento.
A escutatória, nesse contexto, é um exercício de presença.
É entender que o outro não precisa que a gente o corrija, interprete ou ensine imediatamente. Às vezes, ele só precisa ser acolhido.
Ouvido de verdade.
Na psicomotricidade, escutar é se relacionar.
É entrar no ritmo do outro sem querer dominar ou consertar.
É esperar, observar, sentir junto.
É ter paciência com o tempo do corpo, com o tempo da emoção, com o tempo do vínculo.
E, muitas vezes, é no silêncio e na brincadeira espontânea que ouvimos as verdades mais profundas.
Psicomotricidade não é só técnica.
É escuta.
É sensibilidade.
É relação.
E talvez seja esse o maior convite que ela nos faz: abrir espaço para o outro existir, como ele é, no seu tempo e no seu corpo.
Talvez devêssemos ensinar mais escutatória nos cursos, nas escolas, nas casas.
Não só para psicomotricistas, mas para todos que querem se conectar de verdade com o outro.
Porque no fim, escutar é um ato de amor.
E a psicomotricidade, quando bem praticada, é amor em forma de presença.
